Neste 15 de junho de 2021, fazemos memória do 90º aniversário do martírio de Albertina Berkenbrock, beatificada em 20 de outubro de 2007, em Tubarão-SC.
Nossa pequena e corajosa mártir nasceu no dia 11 de abril de 1919, em São Luiz, município de Imaruí-SC. Foi batizada em 25 de maio de 1919, crismada em 9 de março de 1925 e fez a primeira comunhão no dia 16 de agosto de 1928. Sua primeira comunhão foi uma experiência única: “o dia mais belo de minha vida!”, repetia com frequência.
Com apenas doze anos de idade, dois meses e quatro dias, no dia 15 de junho de 1931, pelas quatro horas da tarde, Albertina foi impiedosamente degolada (com um punhal de picar fumo) porque quis preservar intacta sua pureza virginal e defender sua fidelidade incondicional a Deus.
Naquela tarde, como em tantas outras, Albertina dava ração aos animais, na propriedade rural da família. Notando a falta de um boi, seu pai, Henrique Berkenbrock, mandou-a procurá-lo.
Deixemos que o próprio assassino, conhecido como “Maneco Palhoça”, relate como tudo aconteceu: “Eu estava na roça. Albertina passou perto de mim procurando um boi. Primeiro tentei falar com ela, depois, quando recusou minha proposta tentei segurá-la. Albertina me dizia: ‘Manoel, eu não quero pecar. Meu pai não quer que eu faça esse pecado’. Como ela continuasse a recusar, tentei agarrá-la à força, mas não consegui dominá-la. Depois que a derrubei por terra, ela ainda me deu dois pontapés. Não podendo deflorá-la, cortei-lhe a garganta e saí correndo. Acusei como assassino João Cândido, que de manhã tinha passado pela estrada” (cf. referências bibliográficas no final).
Tão jovem em idade, porém, madura na fé, na esperança e na caridade, consciente de que “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos” (Jo 15, 13).
Albertina ensina como a pureza do corpo indica a fidelidade de nossa alma a Deus: ela deve ser entregue ao Senhor sem reservas e traições… Que nossa existência seja íntegra na fidelidade, pura nas intenções, total na luta, disponível no sacrifício!
A partir de sua beatificação, Albertina foi apresentada pela Igreja como virgem e mártir, e como modelo de santidade, sobretudo para a juventude.
Ela deixa uma forte mensagem a tantos adolescentes e jovens de nossos dias que, facilmente, buscam a felicidade em paraísos artificiais e enganosos, para além de toda e qualquer norma moral e respeito pela dignidade da pessoa humana.
Pelo testemunho de sua mãe, carinhosamente conhecida e chamada tia Fina e, também, pelo testemunho dos que participavam na comunidade eclesial de São Luiz, frequentada com assiduidade por Albertina, sabemos que era uma jovem obediente, serviçal, disponível, generosa, acolhedora.
Minha mãe, Leonila Berkenbrock Westrupp, prima irmã e colega de escola de Albertina, nos contava mais tarde, que a prima mártir dedicava-se com esmero aos estudos e que gozava de grande estima na escola. Dotada de extraordinária sensibilidade para as coisas de Deus e do próximo, Albertina alimentava predileção pelos colegas mais pobres, brincando com eles e elas e dividindo o pão que trazia de casa para comer no intervalo das aulas…
Nutria especial caridade para com os filhos de seu futuro assassino Manoel Palhoça, o qual trabalhava e morava na propriedade da família. Frequentemente Albertina visitava sua casa. Ali brincava e se entretinha alegremente com as crianças, carregando-as ao colo… Poucas horas antes de ser assassinada, ainda levou comida para os filhos de seu algoz.
As virtudes humanas e cristãs praticadas e vividas por Albertina, estão a confirmar que ela, apesar de sua pouca idade, correspondeu à vocação de santidade que recebeu na fonte batismal. Viveu de maneira exemplar os valores do Evangelho.
Nesse breve período de vida, Albertina atingiu extraordinária maturação cristã e correspondência crescente à graça divina, que ela conheceu nos caminhos ordinários da educação cristã recebida no lar e da vida sacramental. Em casa, recitava o rosário e as orações diárias com seus familiares.
Cultivava filial devoção a Nossa Senhora. Era devota de São Luiz Gonzaga, modelo de pureza e de Santa Inês, virgem e mártir, também degolada em defesa da virgindade.
Uma coisa é certa, Albertina era uma jovem que gostava de rezar. Por isso, ela crescia, em idade e graça, vivendo humildemente e cumprindo com simplicidade e alegria seus deveres para com Deus, com seus pais e irmãos, e com o próximo.
“Bem-aventurados os puros de coração, pois eles verão a Deus” (Mt 5, 8). Albertina tinha um coração puro, limpo, sincero, transparente, bondoso, amável, manso e humilde, prestativo, obediente, caridoso… Um coração assim, que sabe amar, não deixa nem permite entrar na sua vida nada que atente contra esse amor… O Pai do céu, que “vê no escondido” (Mt 6, 6), reconhece o que não é limpo, o que não é transparente, mas só aparência; e, de igual modo, também o Filho de Deus sabe o que há no interior de cada ser humano (cf. GeE, 84).
Quando, a exemplo da virgem e mártir Albertina, o coração ama a Deus e ao próximo acima de tudo (cf. Mt 22, 36-40), quando isso for sua verdadeira intenção e não apenas palavras ocas, então esse coração é puro e pode ver a Deus, quer dizer, torna-se capaz de ver Deus “face a face” (cf. 1 Cor 13, 12).
Na verdade, manter e guardar o coração limpo de tudo aquilo que mancha o amor: isso é santidade (cf. GeE, 86). Sendo assim, podemos dizer que Albertina é santa! Aliás, “a santidade é o rosto mais belo da Igreja” (GeE, 9). Cada um de nós é chamado a ser santo e íntegro diante do Senhor, no amor (cf. Ef 1, 4).
Ao propor as Bem-aventuranças, “bilhete de identidade” do cristão (cf. GeE, 63), Jesus estava descrevendo o coração do próprio Deus, isto é, dava a conhecer o segredo mais íntimo do Pai, revelando quem Deus é: feliz por ser o que Ele é. E Deus quer comunicar sua felicidade a nós, pois Ele é feliz vendo e fazendo seus filhos e filhas felizes como Ele é feliz.
Eis porque somos desafiados a sermos mensageiros da felicidade de Deus. Para isso, é necessário transmitir aos outros a experiência que fazemos da felicidade de Deus em nossa própria vida. Albertina conseguiu!
E nós, seremos capazes de conquistar o tesouro do Reino, que Albertina alcançou?
* Artigo escrito por Dom Nelson Westrupp, scj – Bispo emérito de Santo André
Referências Bibliográficas:
cf. Bem-aventurada Albertina, Dom Hilário Moser, SDB, Bispo emérito de Tubarão; Dom Jacinto Bergmann, Bispo de Tubarão, 2ª Edição revisada e atualizada, Diocese de Tubarão-SC, 2007); (cf. Albertina Berkenbrock, Albi Israel da Silveira, 2ª Edição, Gráfica e Editora Humaitá, 2014, Tubarão-SC); (cf. Decreto sobre o martírio de Albertina Berkenbrock, Congregação das Causas dos Santos, Roma, 16.12.2006, Cardeal Saraiva Martins); (cf. Homilia do Cardeal Saraiva Martins durante o Rito de Beatificação da Mártir Albertina Berkenbrock, Tubarão-SC, 20.10.2007).
Source: Diocese