Neste tempo de quaresma, o chamado é para se converter, palavra bíblica que quer dizer: ser melhor, melhorar a vida espiritual, o modo de se relacionar com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo, por que não?
Esta palavra anda esquecida, mas a vivência do que ela significa está em dia, ou seja, a omissão é atitude tomada pela maioria das pessoas, em especial os que tem responsabilidades de governo. É mais fácil se omitir e posar de prudente, que enfrentar as dificuldades para resolver as situações difíceis, e assim trazer melhoria para as pessoas e instituições.
A palavra omissão vem do latim e significa “deixar de ir adiante”. A omissão é faltar ao cumprimento do dever, deixando de fazer uma ação a que se estava moralmente obrigado. É a decisão de não agir quando é dever fazê-lo. Podemos até dizer que os pecados ou faltas por ação sejam menos frequentes que por omissão. Peca-se mais por omissão do que por comissão.
Neste tempo de quaresma é bom prestar atenção redobrada nas faltas por omissão que provocam, em todos os ambientes, graves consequências no convívio social, na política e até mesmo na Igreja. Por isso se pede durante a missa, no ato penitencial, perdão pelos pecados de “pensamentos, atos e omissões”.
Nós brasileiros temos muita facilidade de tolerar a omissão, tanto das pessoas como a omissão coletiva, na qual a responsabilidade individual é mais dificilmente determinada. Por exemplo, as conspirações de silêncio em torno da discriminação por raça, cor, etnia ou religião. É a omissão coletiva diante de um estado de injustiça social que pesa sobre a população.
Sem dúvida a responsabilidade maior pela omissão recai sobre os que tem meios para repará-la. Eles, porém, agem sempre apoiados nos grandes cumplices da omissão: o egoísmo, o comodismo e a covardia.
No entanto, os omissos procuram se passar por prudentes. É impressionante o discurso a favor da prudência, a falsa prudência, porém, que os omissos fazem. A falsa prudência segue o politicamente correto, o interesse pessoal, evita sempre os conflitos, capitula diante dos leões e castiga os cordeiros. Esta prudência oprime porque favorece o “status quo”, produz fariseus e não tem profetismo ou visão de futuro.
A prudência verdadeira trabalha não só em prol da pessoa, mas da coletividade, é movida pela verdade e justiça, defende a dignidade de todos e não tem medo dos leões defendendo os cordeiros. Jesus é a imagem do homem prudente, mas não teve dúvidas em expulsar os vendilhões do Templo. Sua prudência não estava separada do profetismo e do anúncio do Evangelho.
A prudência é uma das quatro virtudes cardeais apontadas pela Antiguidade e a Idade Média. Talvez a virtude mais esquecida, mas ela não pode ser suporte para a omissão dos covardes. A verdadeira prudência, quando é virtude, evita a omissão exatamente por prudência.
A ética da responsabilidade quer que respondamos não apenas por nossas intenções ou princípios, mas também pelas consequências de nossos atos. Esta é uma ética da prudência verdadeira e é a única válida, porque leva em conta as consequências de nossas ações e não só de nossas convicções. Aqui, não há lugar para a omissão.
Não espere por prudência que os seus erros se consertem sozinhos com o tempo, a omissão fará você errar mais.
* Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André
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