Dando continuidade ao nosso artigo sobre os dois novos santos canonizados pela igreja, hoje com muita alegria apresentamos a vida de São Pier Giorgio Frassati. Um santo que antes do anúncio da canonização poucos conheciam, mas a sua história e obras nos inspiram a busca de santidade na atualidade, principalmente para os nossos jovens, mostrando que é possível ser santo e viver a fé, sem vergonha e unido com as outras pessoas.

Pier Giorgio nasceu em 1901, na cidade Turim, Itália. Seus pais: Alfredo e Emanuele III eram pessoas que renomadas na sociedade daquela época, seu pai era jornalista e dono do jornal “La Stampa”, enquanto sua mãe era uma pintora famosa. A vida de São Pier Giorgio Frassati é um testemunho vibrante de como a fé pode se entrelaçar com a alegria, o compromisso social e o amor pela criação. Frassati cresceu em uma família católica devota que lhe transmitiu valores de oração, solidariedade e serviço ao próximo. Desde cedo dividiu seu tempo entre os estudos, a prática esportiva nas montanhas e a ação caritativa, demonstrando que a santidade pode florescer no cotidiano de um jovem laico.
Em sua canonização, Papa Leão afirmou: “Pier Giorgio encontrou o Senhor através da escola e dos grupos eclesiais – a Ação Católica, as Conferências Vicentinas, a FUCI, a Ordem Terceira Dominicana – e testemunhou-o com a sua alegria de viver e de ser cristão na oração, na amizade, na caridade. A tal ponto que, ao vê-lo circular pelas ruas de Turim com carinhos cheios de ajuda para os pobres, os amigos o rebatizaram de “Empresa de Transportes Frassati” (Leão XIV).
JUVENTUDE E FORMAÇÃO
Frassati ingressou na Universidade de Turim, onde se destacou como estudante brilhante, mas nunca se afastou das necessidades dos mais pobres. Mesmo quando ainda lhe faltavam dois exames para concluir a graduação, dedicava‑se a visitar os doentes, a doar roupas e a arrecadar recursos para medicamentos, muitas vezes caminhando a pé pelas ruas para economizar o dinheiro do transporte. Seu entusiasmo pela vida era evidente: frequentava o teatro, a ópera, os museus e conhecia de cor obras de Dante, ao mesmo tempo em que permanecia atento às necessidades dos marginalizados.
Uma das grandes frases de Frassati foi quando ele ia ao sacrário todos os dias e dizia do privilégio que o senho tinha dado a sua pessoa: “Cristo vem a mim todos os dias. E eu retribuo-lhe a visita, indo visitar os pobres” (Frassati)
COMPROMISSO SOCIAL E POLÍTICO
Como leigo ativo, Frassati participou de várias associações católicas e foi membro do Partido Popular de Don Sturzo, embora criticasse as tendências fascistas que surgiam na Itália. Seu engajamento político era motivado por um profundo sentido de justiça social, sempre orientado pelos ensinamentos do Evangelho.
Pier Giorgio afirmava que a luta pela defesa pela fé era o que o motivava para ajudar os mais necessitados: “Viver sem uma fé, sem um patrimônio para defender, sem sustentar a verdade numa luta contínua, não é viver, mas fingir que se vive” (de uma carta de Pier Giorgio – 1925)

AMOR PELA MONTANHA E O “UPWARDS”
A paixão pelas altas montanhas o levou a se inscrever no Club Alpino Italiano e na associação Giovane Montagna. Para ele, a escalada era mais que esporte: era uma “escola de oração e de adoração”, um caminho ascético que o aproximava de Deus. Em suas próprias palavras, dizia que “a cada dia que passa me apaixono perdidamente pela montanha” e que desejava “escalar os picos mais ardidos, provar aquela alegria pura que só nas montanhas se tem”.
Uma das grandes frases deste santo é “Verso l`alto!”. A frase “Verso l’alto!” (“Para o alto!” ou “Para cima!”) foi escrita por Pier Giorgio Frassati em um cartão postal que ele enviou a um amigo, acompanhado da sua última fotografia conhecida, tirada durante uma escalada na Val di Lanzo 2.
Na foto, ele está subindo a montanha, com o rosto voltado para o objetivo, e a palavra “Verso l’alto” é a legenda que ele escolheu para descrever aquele momento e, por extensão, a sua vida. Para Pier Giorgio, a escalada das montanhas não era apenas um esporte, mas um itinerário ascético e espiritual:
-
A Busca pela Santidade: A subida às “pontas mais ousadas” da montanha simbolizava a sua jornada espiritual e o desejo de alcançar a Deus, o “Absoluto”. O Papa João Paulo II observou que Frassati havia feito de cada escalada uma “escola de oração e adoração, um compromisso de disciplina e elevação”.
-
A Admiração pelo Criado: A natureza, especialmente a montanha, era para ele um lugar de encontro com Deus. Diante do “espetáculo extraordinário da natureza”, Frassati elevava o coração ao céu. A admiração pela criação levava-o à admiração do próprio Deus, do visível ao invisível.
-
Vida Cristã como Peregrinação: O lema “Verso l’alto!” representa a vocação de todos os cristãos, especialmente dos jovens, a não desperdiçarem a vida, mas a direcioná-la para o alto e fazer dela uma obra-prima. Sua vida foi um exemplo de como harmonizar a fé com os acontecimentos cotidianos, dedicando-se ao serviço constante do próximo, sem que o gosto pela arte, o esporte ou os problemas sociais o impedissem de manter uma relação constante com o Absoluto.
-
A Meta Final: A expressão resume a orientação escatológica da vida de Frassati. Ele tinha a convicção de que o verdadeiro fim da vida estava em Deus. Ele chegou a dizer que “O dia da minha morte será o dia mais bonito da minha vida”, pois era o momento de alcançar a meta para a qual se havia dirigido: o Céu.
Em resumo, “Verso l’alto!” é a síntese da espiritualidade de Pier Giorgio Frassati: uma vida de intensa caridade, engajamento político e associativo, paixão pelo esporte, e uma fé profunda, tudo orientado para o encontro com Cristo, o cume de todas as aspirações. Ele é um modelo de jovem moderno que soube dar um corajoso testemunho de generosidade na fé cristã.
VIDA DE ORAÇÃO E ALEGRIA
Pelo seu carisma, Frassati era descrito como “um jovem cheio de alegria que varria tudo ao seu redor” (Christus vivit, 60). Essa alegria não era superficial; era fruto de uma profunda intimidade com Cristo, alimentada pela Eucaristia, que ele desejava “devolver o amor de Jesus que recebia na Comunhão visitando e ajudando os pobres”. O Papa Bento XVI, ao encontrar jovens em Turim, destacou‑o como modelo de “serenidade e alegria no serviço entusiástico de Cristo e dos irmãos”.
No seus escritos, Pier Giorgio sempre destacava a importância de vivermos bem diante da presença do senhor: “Nós – que, por graça de Deus, somos católicos – não devemos gastar os anos mais belos da nossa vida como desgraçadamente fazem tantos jovens infelizes que se preocupam com gozar os bens terrenos e não produzem nada de bom, mas que apenas fazem frutificar a imoralidade da nossa sociedade moderna. Devemos treinar, a fim de estarmos prontos para travar as lutas que, seguramente, teremos de combater pela realização do nosso programa e para, assim darmos á nossa Pátria, num futuro não muito longínquo, dias mais alegres e uma sociedade moralmente sã. Mas para tudo isto, é preciso: a oração contínua para obter de Deus a graça sem a qual as nossas forças são vãs; organização e disciplina para estarmos prontos para a ação no momento oportuno e, finalmente, o sacrifício das nossas paixões e de nós mesmos, porque sem isso não se pode atingir o objetivo”.
DOENÇA E MORTE
Em junho de 1925, Frassati contraiu poliomielite, provavelmente ao atender um doente. Os primeiros sintomas – cefaleia, falta de apetite e febre – surgiram em 30 de junho, e ele faleceu em 4 de julho, aos 24 anos, após uma rápida deterioração. Mesmo nos últimos dias, manteve‑se firme na oração e na confiança em Deus, declarando que “o dia da minha morte será o dia mais bonito da minha vida”.

